Realmente, eu vi tudo que posso, senti tudo que posso, mas mesmo assim Deus me diz que posso continuar, e esse continuar significa dor e alegria.
Me diz que sou forte e que vou suportar! Mas na verdade me sinto frágil como folhas de outono, frágil como uma pétala de rosa... indefesa!
Por que? Sempre fui forte! Em meados de 1992 meu padrasto, pra mim meu pai, pois me criou desde os 6 anos de idade, teve um câncer de próstata, ficou internado e eu passava as noites com ele, durante o dia minha mãe e minha irmã se revesavam e eu cuidada do meu filho Alex, que na época tinha somente 2 anos e pouco. Naquele momento da minha vida eu tinha apenas 21 anos de idade, tinha emagrecido mais de 20 quilos, meu corpo era de menina, minha auto-estima estava em alta, cabelos longos,... bom voltando, fui para o hospital naquela noite, vestia uma saia curta, blusinha de manga longa e sapatilha. Meu pai tinha passado o dia muito bem e eu queria que ele me visse bem vestida e saudável. Por volta das 22 horas ele começou a tossir sem parar, usava um cateter vascular para receber o medicamento que eram muitos e a toda hora. Com a tosse apertando o cateter simplesmente saiu do lugar e o sangue esguichava pelo quarto, peguei toalha e apertei forte, mas a toalha não aguentou 1 minuto, enquanto isso eu chamava a enfermeira, não demoram nada, a tosse continuava e sangue escorria, me mandaram sair do quarto, nisso já estavam em 5 entre médicos e enfermeiros em volta dele, fiquei ali na porta do banheiro olhando, deram choque, e massagem cardíaca, quando ele voltou o entubaram, e ali se foi a primeira parada respiratória, nem perceberam que eu ainda estava ali, estática, branca como um papel, meus olhos cheios de água, me bateu uma tristeza tão profunda, uma dor dentro do peito. Bom, limparam o quarto, colocaram outro cateter, e eu sentei ao seu lado, ele não estava em coma, me olhava, com aquele olhar triste, e eu ali segurando a sua mão fria... perguntei a ele, tá se sentindo melhor? Ele respondeu com a cabeça que não, apertou minha mão e naquele momento teve outra parada, chamei os médicos, enfermeiros, não pela campainha do quarto, aos berros no corredor. Fizeram tudo que podiam naquele momento, até o colocaram em um quarto mais próximo a sala da enfermagem, e claro levaram minha poltrona, aquela que eu passava as minhas noites, com as pernas esticadas e sempre com a cabeça na pontinha do colchão da cama dele e com o braço sobre o peito dele. A noite seguiu ele entrou em coma profundo e fiquei ali sentada ao seu lado segurando sua mão, conversava com ele e ele apertava minha mão, numa unica tentativa de se comunicar. Às nove e pouco da manhã senti seu último suspiro, a maquina onde mostrava os seus batimentos, fazia um som constante, a médica declarou sua morte às 9:52 da manhã. Foi a noite mais longa da minha vida.
Eu ali sozinha agora, olhando para o corpo dele naquela cama e logo depois os enfermeiros levando para o necrotério do hospital. Fiquei ali na porta olhando meu pai indo embora, chorei, e corri pelo corredor, parei a maca e pedi por favor por mais um instante, abracei seu corpo morto, ainda quente, chorei e beijei seu rosto, eles cobriram com um lençol branco e seguiram. Fiquei ali alguns instantes parada, imóvel, quando a sua filha mais velha chega, grávida, (filha dele do 1º casamento), quando me viu abriu um sorriso lindo, e eu sequei as lagrimas e disse, o pai foi fazer um exame, vai demorar, melhor você ir para casa, depois eu te ligo! Ela me olhou e disse: - Exame? De quê?
Eu respondi: - Ultrasson
Ela disse: - Ah eu vou lá, conheço todos do setor.
Eu me esquecera que ela trabalhou muitos anos ali, naquele hospital.
Então rapidamente eu disse: - Vamos tomar um café, tô precisando.
Ela por fim me seguiu, na lanchonete eu contei a verdade, ela chorou muito e eu fiquei ali estática, sem palavras.
Já se passavam das 10:30 e minha mãe iria chegar. Num gesto de desespero eu liguei para minha irmã mais velha e pedi que desse a notícia. Ela chorou!
E eu? Eu tava lá no hospital, triste!
Naquele momento só pensava em sair dali e dormir, mas não, fui para o IML liberar o corpo e acertar tudo para o enterro. Tudo foi muito chocante, mas eu me sentia bem, conversei, comi, ri, até quase apanhei do filho dele, porque queria levar para outro cemitério, e o meu pai queria ficar em Cotia mesmo, já tinha nos pedido. Mas quando vi minha mãe sendo amparada pela minha irma do meio, senti novamente aquela dor no meu peito, pensei que fosse morrer também. A cerimonia foi triste, fomos pra casa, e eu só pensava nele, segurando minha mão. Queria um carinho, um abraço naquele momento de dor, e quem estava comigo, além de meu filho, Deus. Só Deus!!
Sempre me dizem você é forte, lutadora, e porque me sinto frágil e sem rumo?
Depressão? Sintomas de saudade? Não sei... só sei que tenho uma certeza, vai passar, e quando eu ler este post vou me lembrar desse momento e rir ou chorar...não sei, mas sei não estarei mais sofrendo, pode ser que por outro motivo, mais isso não importa.
O que importa é que vai passar, eu creio!!!
É isso! Ouvindo Sandy Leah - Pés cansandos
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